sábado, 13 de outubro de 2007

ai.

sei o mundo dentro de mim
sua pequenez diária:
conversas pêlos contas e merda
sinto as mínimas tragédias ferozes:
o sangue os rasgos as fendas e abismos
o choro incontido a dor no corpo
a falta de sono a fome perdida
longos abraços lamentos uivos

uivo.
imploro rastejo
que os fios invisíveis se cortem
que seja leve a ida
que seja leve o dia
que leve, que lave

onde estão meus deuses todos?

onde está agora
a grande mão invisível que me ampara
que me reduz a pó que me conforta
que me leva de volta a mim?
onde está?

onde estou?

o cheiro me enjoa.
o cheiro da casa o cheiro de mim

o vazio cheira mal

não há bálsamo nem óleo nem incenso
nem mirra nem sabonete
que faça minha alma mais limpa.


suja,
minha alma cheia de arestas.
agora sou só resíduos
de mim.

nada há senão resíduo
viscoso denso a pingar
com lentidão de morte
de pesadelo diurno
de terror noturno
de grito assombrado.

escorre até o fim.
quando?

3 comentários:

just a curious disse...

Vejo em ti muito de Augusto dos Anjos. Com Álvares de Azevedo e Arthur Schopenhauer.
E com mais um quê, que te dá um toque de alma e não te permite um niilismo total, que ainda não sei bem do quê.
Concorda?

tati fadel disse...

Augusto dos Anjos??? Não vejo muito dele não, apesar de gostar um tanto da poesia dele. Schopenhauer deve aparecer pelas beiradas, já que é uma leitura que me agrada. Álvares de Azevedo, só se for pelo estado lamentável em que me encontrava no momento (nao gosto dele, pra falar a verdade).
Mas o niilismo passa longe de mim, graças aos deuses.

just a curious disse...

Gosto dos três. E do que você escreve também. E, lamentavelmente, confesso que o niilismo anda passando bem perto de mim. Deve ser por não estar dando o devido crédito - aos deuses.