terça-feira, 18 de março de 2008

não há remédio que cure a dor.
não esta.
que me rói o impulso,
que devasta a noite,
que crava em minha nuca dentes ancestrais.

não há sono,
nem riso,
carícia ou engano.

não há beijo,
afago ou grito.
nada.
não há morfina pra isso.


não há nada aqui dentro,
a não ser a certeza imemorial:

estou só,
e pronta para o salto.

não há redes.
vertigem há,
e muita.

sábado, 15 de março de 2008

olha pro mundo
e sua vida
cheia de vôos e pássaros
e leões-esfinges decifradas.

olha o sonho,
o sono leve das manhãs,
o café quente na cama,
o gato que te beija,
a mulher que te beija,
os perfumes das ervas,

aquilo que há de real e mágico
se impõe como um braço ou uma boca.
acendo outro cigarro
madrugada adentro.

pela vida adentro,
faço assim:

leio cortázar na cama,
faço um café,
choro um pouquinho,
sinto um tanto de dor,
espero tempestades,
escrevo poemas de amor,
beijo gatos e cães,
planejo futuros,
calculo os juros,
preparo viagens,
rezo sobre a comida,
acalmo medos,
reparo a vida.

o cigarro queima no cinzeiro
mas sua brasa anda dentro de mim.
há aquela música ao fundo:
um piano rápido ou lento
e pausa dramática entre respirações
percebemos que sim,
há uma trilha sonora para os amores
numa noite qualquer.

vamos ver a lua,
mas não havia lua,
nem céu,
nem estrelas na sombra chuvosa,

tudo era espera e o tal piano ao fundo
(meu deus, de onde vem essa música?) .
ríamos da coincidência feliz dos acordes,
prevendo já a vida que dançaríamos inteira
em coreografia desajeitada
cheia de encantos.

quinta-feira, 6 de março de 2008

qual a tua guerra?  pergunto eu

e respondo eu mesma ainda sem saber

- ao certo -

qual a minha guerra.

 

contra as misérias da alma

as mesquinharias dos dias,

as contas bancárias

e viagens por fazer.

 

contra nós e

o equilíbrio vacilante

entre duas pontas do

mesmo eixo

 

pendemos dóceis,

quase gentis,

penduramo-nos em cordas

tecidas por trinta e tantos anos.

 

podemos então

nos enforcar

ou (crianças)

balançarmos alegres

sobre esses abismos.