esfrega-me as dores com ramos de alecrim.
(se rio às vezes é choro incontido)
banha-me a alma com cânfora.
leva-me embora o que há de antigas tristezas.
renova-me os deuses, te peço.
desamarela-me, renova a mim
e ao que trago de cinzas sem fênix.
relembra-me o corpo
e o que nele há de amor e glória.
esta a memória de alegria:
estar em mim novamente
- bem antes de setas serem lançadas
pelo arco retesado da palavra -
e saber dormir em paz.
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008
domingo, 17 de fevereiro de 2008
sábado, 16 de fevereiro de 2008
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008
Estão ali,
Enterrados,
Meus melhores dias.
Eu brilhava então,
Como se dentro de mim
Mil sóis houvesse.
As palavras eram claras
Meus dentes não rangiam
E a cabeça pousava leve sobre os ombros.
Eu sabia o que era amor:
Leite e mel escorriam de meu corpo
e a doçura não estava só na memória.
Agora, há apenas
dor de cabeça aspirinas,
umhas roídas dentes rilhados
e a certeza de que, mais que tudo,
o tempo amarga.
Enterrados,
Meus melhores dias.
Eu brilhava então,
Como se dentro de mim
Mil sóis houvesse.
As palavras eram claras
Meus dentes não rangiam
E a cabeça pousava leve sobre os ombros.
Eu sabia o que era amor:
Leite e mel escorriam de meu corpo
e a doçura não estava só na memória.
Agora, há apenas
dor de cabeça aspirinas,
umhas roídas dentes rilhados
e a certeza de que, mais que tudo,
o tempo amarga.
domingo, 10 de fevereiro de 2008
sinestesia
preciso de mim do silêncio das ausências da tristeza sentida como navalha me ferindo a pele arrancando a carne dos ossos me deixando nua e viva em chaga antiga e nova marcando-me as costas entre as escápulas desejando as coisas antes de terem existido nascendo a cada dia mais uma vez devorando as coisas avidamente antes que mais uma vez chegue a noite o silêncio soturno de cais abandonado caia na alma e me deixe assim:
os olhos pequenos tentando ouvir.
os olhos pequenos tentando ouvir.
Eugenio Montejo
(Poeta venezuelano)
Volta a teus deuses profundos;
estão intactos,
estão ao fundo com suas chamas esperando;
nenhum sopro do tempo as apaga.
Os silenciosos deuses práticos
ocultos na porosidade das coisas.
Hás rodado no mundo mais que nenhum calhau;
perdeste teu nome, tua cidade,
assíduo a visões fragmentárias;
de tantas horas que reténs?
A música de ser é destoante
porém a vida continua
e certos acordes prevalecem.
A terra é redonda por desejo
de tanto gravitar;
a terra arredondará todas as coisas
cada uma a seu término.
De tantas viagens pelo mar
de tantas noites ao pé de tua lâmpada,
só estas vozes te circundam;
decifra nelas o eco de teus deuses;
estão intactos,
estão cruzando mudos com seus olhos de peixe
ao fundo de teu sangue.
Volta a teus deuses profundos;
estão intactos,
estão ao fundo com suas chamas esperando;
nenhum sopro do tempo as apaga.
Os silenciosos deuses práticos
ocultos na porosidade das coisas.
Hás rodado no mundo mais que nenhum calhau;
perdeste teu nome, tua cidade,
assíduo a visões fragmentárias;
de tantas horas que reténs?
A música de ser é destoante
porém a vida continua
e certos acordes prevalecem.
A terra é redonda por desejo
de tanto gravitar;
a terra arredondará todas as coisas
cada uma a seu término.
De tantas viagens pelo mar
de tantas noites ao pé de tua lâmpada,
só estas vozes te circundam;
decifra nelas o eco de teus deuses;
estão intactos,
estão cruzando mudos com seus olhos de peixe
ao fundo de teu sangue.
eterno retorno
um passo depois do outro um dia depois do outro um amor depois do outro uma morte depois da outra um cansaço depois do outro um abraço depois do outro um amor depois do outro um passo depois do outro uma morte depois da outra um cansaço depois do outro.
um cansaço.
um cansaço.
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008
lapso
Eu precisava ainda de mim.
Precisava do espelho e da pedra
do olho alheio me dizendo amém.
Precisava do rato em frangalhos
do dragão alado no chão
da virgem com punhal
Ainda precisava de mim
quando fui embora.
Precisava do espelho e da pedra
do olho alheio me dizendo amém.
Precisava do rato em frangalhos
do dragão alado no chão
da virgem com punhal
Ainda precisava de mim
quando fui embora.
quarta-feira de cinzas
no fim de tudo,
me restam dois cigarros,
quatro músicas pra chorar
uma xícara de café,
três lampejos de morte,
seis palavras de amor,
e um riso além de mim.
Pra que mais?
me restam dois cigarros,
quatro músicas pra chorar
uma xícara de café,
três lampejos de morte,
seis palavras de amor,
e um riso além de mim.
Pra que mais?
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008
mandinga
mexa com as ervas, menina,
amassa as plantas com as mãos,
joga o banho do pescoço pra baixo.
faz um agrado pro santo.
deixa um café pros guias,
uma vela verde, um copo dágua pra Ela,
planta sua proteçao aí mesmo.
reza, que logo isso passa.
(amém)
amassa as plantas com as mãos,
joga o banho do pescoço pra baixo.
faz um agrado pro santo.
deixa um café pros guias,
uma vela verde, um copo dágua pra Ela,
planta sua proteçao aí mesmo.
reza, que logo isso passa.
(amém)
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008
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