segunda-feira, 16 de julho de 2007

cem anos aguardo
de saudade e sal

corre um rio de prata entre nós
separa em mim
o que é compasso
de espera

e se
eu não fosse eu,
fosse a outra,
duplo de mim?

aquela que não é
lobo em grilhões.

aquela que dança com leveza
a que sabe chorar sem medo
aquela que canta
e vez ou outra ri tão alto
que os outros em redor sorriem.

aquela temerária
atravessando rios,
oceanos, desertos, geleiras
apenas porque assim
deseja
seu corpo?

e se
fosse eu
um tigre cujos olhos se fixam
em posição de bote
e cujos passos atravessam a sala
destemidamente?


(Sou eu agora a presa.)

fosse eu ela
os vidros se partiriam
e da jaula quebrada
nasceriam pequenos cristais
ou borboletas.

Soubesse eu
ser pedra sem espinhos
o mundo seria outro
e eu,
a outra.

um espelho que não me deforma.
um salto.
um grito.

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